A situação de abandono dos bairros populares de Salvador e o caso do Nordeste de Amaralina
Foto: Rua do Gás, Vale das Pedrinhas (Nordeste de Amaralina)
A foto acima ilustra apenas uma
parte dos problemas que os bairros populares de Salvador estão sofrendo. Caos e abandono imperam nesses lugares
esquecidos pelo poder público, em especial, o poder público municipal. A
administração do prefeito ACM Neto já vem fazendo intervenções na cidade há
algum tempo, principalmente nas localidades onde habitam as classes médias e
altas da cidade. Além das propagandas da prefeitura na TV, outdoors e outros meios, manchetes de jornais periodicamente exibem
as cifras exorbitantes em projetos de requalificação urbana, mobilidade e etc (o
último foi o projeto de requalificação da orla da Barra, orçado em cerca de 50
milhões!). No entanto, visivelmente vem “esquecendo” dos bairros populares
deixando-os a mercê do tempo. Nada novo até aqui, visto a administração Neto,
segue a mesma linha do seu falecido avô, voltada para as elites, empresários do
ramo imobiliário e de transportes. Além disso, uma administração regada a propagandear
a “felicidade do povo baiano” e a “pão e circo”, incluindo, e este é um aspecto
novo desse neo-carlismo, a retórica de
gestão administrativa baseada na eficiência prática empresarial.
Mas pra quem essa eficiência da
gestão empresarial é voltada? A resposta está em todo lugar, basta observar as
diferenças entre os bairros considerados de classe média (Iguatemi, Pituba, Barra,
Ondina, Campo Grande e outros) e os bairros do miolo e periferia da cidade (Pau
da Lima, São Cristovão, Cajazeiras, São Caetano, Fazenda Grande do Retiro,
Periperi, Liberdade, Paripe, Alto de Coutos entre outros), além das “ilhas de
desigualdade “ localizadas nas áreas mais centrais mas esquecidas pelo poder
público (Calabar, Alto das Pombas, Nordeste de Amaralina, Alto de Ondina, etc),
onde a grande maioria da população de Salvador reside. É perceptível até para os olhares menos
atentos, a diferença com o tratamento da infra-estrutura urbana, trânsito,
lixo, serviços públicos, saneamento, etc. Mas, até aqui, nada de novo também.
No Nordeste de Amaralina, uma
dessas “ilhas de desigualdade” cercadas por bairros de classe média por todos
os lados, não seria diferente. Além dos
serviços públicos municipais estarem entreguem as moscas, toda a
infra-estrutura dependente do poder municipal está em ruínas. Para se ter uma
idéia, a infra-estrutura urbana existente do bairro é da década de 70! E,
claro, isso pode se generalizar para todos os bairros populares dessa cidade. Em
todo o canto se vê ruas esburacadas, asfalto degradado, lixo nas ruas, esgotos
a céu aberto. Se em período de chuvas, a cidade fica um caos, no Nordeste de
Amaralina esta situação piora dez vezes mais!
Foto: Rua do Gás, Vale das Pedrinhas (Nordeste de Amaralina)
O sistema de drenagem pluvial inexistente
junto ao subdimensionamento do sistema condominial de esgotamento sanitário e
ao descontrole TOTAL do poder público com o ordenamento do solo, receita para
alagamentos e inestimáveis perdas materiais para os moradores. Fato curioso é
que o prefeito tenta fazer “maquiagens” no bairro, a última foi uma intervenção
onde foi removido um módulo policial desativado para a construção de uma praça
no Vale das Pedrinhas. Foi construída uma coisa que pode ser chamada de qualquer
outra coisa, menos de praça. Uma aberração urbanística apenas para ter o que
propagandear nos seus meios de comunicação e tentar “calar a boca” do povo.
Porém, como se pode perceber, esta ação não obteve o objetivo esperado.
Esgotos ao céu aberto nos fazem
esquecer, por um momento, que estamos no Brasil (propagandeado país da Copa de
2014). Por um momento chegamos a imaginar que estamos vivendo na África
subsaariana, Haiti ou coisa parecida, tamanho é o descaso do poder público com
esta questão. A rede de transportes é a pior possível, além de não haver mais
espaços para estacionar os ônibus nos finais de linha, ocasionando engarrafamentos
terríveis também dentro do bairro. Postos de saúde são “maquiados”, no entanto
os serviços fornecidos continuam precários e o trabalho dos funcionários fundamentais
para o serviço de saúde, como os Agentes Comunitários de Saúde, continua desvalorizado.
Da mesma forma, existe uma coleta de lixo, porém ineficiente e se mostra
carente de uma logística adequada e adaptada as condições de topografia e
infra-estrutura urbanística do bairro, fortalecendo a evidência de completo
descaso com que são tratados os bairros populares neste quesito.
Por fim, estamos diante de um
quadro de total abandono e descaso. Acreditamos que esse quadro não irá mudar
enquanto não tomarmos uma atitude, nos unir e nos organizar e lutar em prol do
objetivo da qualidade de vida e dignidade nos nossos ambientes de vida. A
Associação de Moradores do Nordeste de Amaralina assume essa posição perante a
administração atual, de cobrar melhorias não apenas para nossa região, mas para
todos os bairros populares de Salvador, que sofrem, apesar de suas
peculiaridades, problemas iguais aos nossos em diferentes escalas de intensidade.
Publicamos aqui nossa breve
reflexão acerca dos problemas mais visíveis do bairro e seguimos na luta em
prol dos interesses dos moradores da região.
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